O Eduardo, na verdade, fazia faculdade de biologia. Só era garçom porque morava só, e precisava do miojo de cada dia. Meio desajeitado, ou um tanto despreparado, ele mal sabia segurar a bandeja. Uma vez perguntara se não poderia usar um carrinho, como nos cruzeiros que se vê nos filmes. Uma mulher então decide fazer um pedido:
― Por favor..
Chamava a tal mulher, acenando em direção ao balcão, onde estava Eduardo, estudando. O barman dá um tapa no braço do rapaz, e aponta para a mesa onde está a mulher. Eduardo corre até a mesa, e com um sorriso meio fraco, diz:
― Pois não?
― Que demora, hein?
― Desculpe, senhora... Eu só estava...
― Tá, tá... Poupe-me de suas desculpas. Não sou sua mãe.
― Ela é mais magra.
― O quê disse?
― Ér, o que a senhora deseja pedir?
― Bom, vou querer apenas uma salada e um copo d’agua, por gentileza.
― Ah, está fazendo regime?
― O pedido por favor!
― Ah, sim... O pedido. Uma salada, não é?
― E um copo d’agua.
― Nossa, que almoço.. – Dizia Eduardo, com uma cara de menosprezo.
― Quem vai comer: Eu ou você?
― Nem em um daqueles campeonatos chineses onde as pessoas sofrem, para ganhar um prêmio em dinheiro, eu comeria uma coisa dessas. – E ria sadicamente.
A mulher se levanta, bate a mão na mesa e grita:
― Pois eu como! E comerei em outro lugar!
Antes que ela desse o primeiro passo em direção a porta de entrada – ou saída – o garçom entra em sua frente:
― Mil perdões! Por favor, fique... Eu estou aqui a pouco tempo, e não sou muito bom nisso.
A mulher olhava para o rapaz e o relógio, enquanto rangia os dentes, disse:
― Uma salada e um copo d’agua. – E pôs a sentar-se.
― Uma salada... Um copo d’agua... – enquanto anotava, fez uma cara de dúvida – Então é por isso!
― Por isso o quê?
― Por isso pediu um copo d’agua! Não tem preço! – Dizia com um sorriso louco. – Eu sei como é... Sempre que vou naqueles barzinhos, acabo com o amendoim.
― Está me comparando com um garçonzinho de quinta, que devora amendoim em botecos?
― Que pede água no almoço.
― Pra mim chega! – A mulher saía, meio enraivecida. Eduardo via-se indo ao mesmo destino, porém com outro objetivo: o de não voltar mais como garçom. Então, como se ouvisse sua consciência guiar-lhe, estendeu a mão até o ombro da mulher e disse:
― Te pago um suco! Manga?
Crônicas que minha professora não entendeu.