Se for viver, não morra

As leis servem para manter o controle e a harmonia na sociedade. E quando não existe mais espaço no cemitério, é porque está faltando controle. Então algo tem que ser feito.

- Parado aí!

- O que aconteceu, senhor?

- Eu to vendo que você ta querendo morrer aí, te peguei no flagra!

- No flagra?

- Mas é muito pilantra... Eu vi quando o senhor olhou pros lados na malandragem e já ia fechando os olhos...

- É que me deu uma tontura.

- Tontura? O senhor andou bebendo?

- Não, não bebo...

- Bebe não, né? Só come, come água.

- É verdade, eu tava morrendo mesmo...

- Sabia! Eu vejo a verdade na sua cara!

- Mas senhor eu não agüento mais. Moro só há muito tempo e vivo doente. Não tenho mais dinheiro para pagar os remédios.

- No meu tempo chá de boldo resolvia dor de cabeça, queda de cabelo, problema cardiovascular...

- Mas eu tenho diabetes, não tem chá que dê jeito.

- Já tentou beber um chá de boldo pra ver?

- Não, porque...

- Olha aí! Tem jeito não, nasceu malandro, morre malandro.

- Não sou malandro não, senhor. Sou homem direito.

- E eu sou canhoto. Olha aqui meu amigo, sinto muito mais depois disso tudo que o senhor confessou e parece que quer mesmo morrer, eu vou ter que tomar uma providencia.

- Não legalizam a morte e proíbem a eutanásia. Até quando?

- Como é que é? Eutanásia?! To vendo que é mesmo um rebelde, e eu vou ter que leva-lo antes que você promova um desses manifestos a favor da morte!

- Mais devagar, por favor, eu não... Consigo... Respirar.

- Pare agora de morrer! É uma ordem!

-...

- O senhor está preso! Tem o direito de permanecer calado.