Um dedinho nos quarenta

O dia tão menos esperado, chegou. Era fácil demais dizer que só durava 30 segundos, que quando a gente menos espera, puft! Acabou. Mas já dizia um sábio homem que nunca revelou seu nome “Pimenta no dos outros é refresco”.
E lá estava a sala dos horrores, um homem que só quer ver o circo pegar fogo e o palhaço, eu, ir pro saco. “Dramático, paranóico, louco”. Aham, tá bom. Espero que se lembrem da frase. Sempre dizem que não dói nada. Quem me garante? Vai que aquele “doutorzinho” me ameaça e me mande ficar de bico calado? Porque todos são muito felizes até os 40, depois, não falam mais nenhuma piadinha relacionada à este tratamento.
– Antônio Augusto!
É a chamada para o abate.
– Pois não?
– É o senhor! – Dizia o homem do Olho de Thundera.
– Vai lá amor, é rapidinho! – Dizia minha mulher com um sorriso no rosto.
– Como sabe? Você já fez?
– Relaxa! Vai logo, vai.
Caminhei até a porta com muita cautela, olhando pros lados, procurando câmeras, microfones. E ele notou.
– Por que o senhor está olhando em volta? Parece um menino quando chega num parque de diversões. – E ria.
– Diversão é uma palavra que não rima com Exame de Próstata.
– Sei que o senhor tem um pensamento sobre o exame, mas não é como você pensa.
– Você usa o dedo?
– Ah, senhor...
– Então é como eu penso.
– Vamos, deixe disso. Deite-se ali e, por favor, tire a roupa.
– Queria ter essa atitude toda.
– Senhor, é rápido. Mas se continuar com esse medo todo levaremos o dia inteiro.
– Por favor, não diga as coisas com “nós”. Me deixa mais a vontade.
– Tudo bem. Fique tranqüilo.
– Você já fez?
– Em muitos homens.
– Não, já fez o seu?
– Eu tenho 34 anos.
– Nunca se sabe. Pode ter herdado do seu pai.
– Meu pai não teve.
– Seu avô.
– Muito menos.
– Seu vizinho.
– Mas que relação eu teria com meu vizinho?
– Poupe-me dos detalhes sórdidos...
– Mas não é pra mim, é pro senhor!
– Por isso tá nesse gás todo.
– Já se passaram 8 minutos.
– Você tá preocupado com tempo? Que amigo.
– Tudo bem, Antônio. Vou sentar aqui e esperar.
– Mas... Não tem outro meio? Sangue, fezes, urina, sei lá...
– Não.
– E se você olhar pra mim, olhar bem, você não consegue ver se tenho?
– Isso é impossível, Antônio!
– O Dr. House conseguiria.
– Senhor, já teríamos terminado.
– Você está quebrando as regras.
– Que regras?
– Nunca usar nada com “nós”.
– Está bem, então vá pra casa e morra se tiver câncer!
– Calma, não é assim, se eu tô aqui vamos fazer isso!
– Vamos?
– Quer dizer... Você vai.
– Arr... Sabe do que o senhor precisa?
– De um whisky e uma massagem tailandesa.
– De um psicólogo.
– Já procurei um. E ele disse que eu precisava de um whisky e uma massagem tailandesa.
– Antônio, é só relaxar e deixar acontecer!
– Isso funcionaria. Se eu fosse uma menininha de 15 anos prestes a perder a virgindade com um velho que tem uma capotaria de sofás de fachada, pra levar suas vítimas, que futuramente, caíram na internet, para a alegria geral dos amantes da pedofilia.
– Como o senhor é dramático!
– Paranóico e louco. Me disseram.
Com a longa demora, minha mulher resolve ver o que se passa e lentamente abre a porta. Me encontra tomando whisky com o doutor, escutando Marvin Gaye.
– Já fizeram?
– Será possível? Você tinha que quebrar o clima...